A importância de desmistificar a distinção por gênero

A importância de desmistificar a distinção por gênero

Partindo da concepção de que somos seres sociais e que produzimos e consumimos cultura, temos que ter a consciência de que as crianças também vivem este contexto de trocas e interações num movimento de ofertar e receber conceitos, informações, atitudes, hábitos, crenças, etc.

Enquanto adultos, já temos estabelecido o que acreditamos e aquilo que queremos defender e lutar. Porém, isso não impede que ao longo da vida façamos reflexões sobre aspectos que podemos superar. Ok?!

Ao mesmo tempo em que estamos considerando adultos (carregados de valores e crenças), temos que pensar em como estes adultos repassam suas ações e ideias para as crianças, pois da mesma forma em que “recebemos” e compreendemos conceitos, também “recebemos” preconceitos.

Por isso, hoje queremos levantar reflexões e discussões sobre as brincadeiras das crianças e suas distinções entre: o que é de menina, e o que é de menino.

Será que existe esta separação? Nascemos com elas?

É claro que existem questões biológicas entre o masculino e feminino, e isso ninguém questionará, pois está aos cuidados da natureza. Alguns buscam suas explicações de origem religiosa e outros de forma científica; e cada um tem o direito de acreditar nas explicações em que mais lhe convém.

Mas, se não queremos debater os aspectos biológicos, queremos dialogar sobre os aspectos sociais que permeiam as interações e relações na infância. Por que? Para criar polêmicas? Não. Para fertilizar as mudanças e transformações em que nós vivemos, em busca de uma sociedade melhor.

E qual a ligação entre as brincadeiras de crianças e a busca por uma sociedade melhor?

A importância de desmistificar a distinção por gênero

As crianças aprendem muito com as brincadeiras. Nelas elas podem compreender o mundo a sua volta, e se expressar a partir delas também. Brincar é coisa séria. Portanto, quando separamos o que é brincadeira de menino e de menina, o que estamos passando ou repassando para nossas crianças?

Muitos questionam o fato de um menino brincar de boneca. E cabe perguntar: qual o problema disso? Os homens, quando se tornam pais, não cuidam de seus bebês? Sim… Eles dão banho, ajudam a trocar a fralda, ninam para dormir, pegam no colo para dar seu carinho paterno, e assim vai… Meninos também podem reproduzir estes hábitos, através das brincadeiras de casinha; experimentando e expressando sua interpretação do mundo.

Reforçando: crianças reproduzem o que vivem. Elas observam tudo ao redor. Ou seja, estão conhecendo as formas de vida e compreendendo seu contexto social. Crianças (meninos e meninas) observam seus pais lavando louça, cozinhando, cuidando da casa, dos irmãos, trabalhando, dirigindo, etc. E quando querem brincar, entram no campo simbólico de vivenciar aquilo que estão conseguindo apreender do mundo.

Meninas podem brincar com carrinho? Claro… Muitas crianças observam mulheres ao volante, suas mães, tias, avós que levam e trazem os pequenos. Além de assistirem no cotidiano mulheres que saem para trabalhar, que jogam futebol, que gostam de carros, que dividem as responsabilidades domésticas, entre tantas outras coisas.

Poderíamos elencar e listar aqui várias atividades que homens e mulheres fazem, pois todos podem tudo! Somos igualmente capazes e todos possuem o direito de serem respeitados.

A importância de desmistificar a distinção por gênero

Neste pensamento de um mundo mais justo, crianças também podem brincar com que quiserem, e saibam que o preconceito está no adulto e não na criança. Não nascemos com um “dispositivo biológico” que nos diz o que podemos fazer ou não, conforme nosso DNA e cromossomos. Portanto, estabelecemo-nos socialmente. E devemos ficar atentos para não reproduzir nossas dificuldades e preconceitos com os pequenos.

Desejamos, então, que todas as crianças possam brincar livremente, expressando seus sentimentos sobre o mundo, construindo e reelaborando valores. E quem sabe, ao longo do tempo, não podemos ter uma sociedade mais tolerante e respeitosa para conviver?!

Ana Cecília S. C. Santana
Coord. Pedagógica

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